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Pongo "Bolinha de pelo"

por Bolinha de Pelo, em 16.08.16

Apesar deste texto ser sobre um final, uma perda, não vou fazer dele algo “triste”, pois faz parte de uma promessa que fiz a mim mesma e ao meu cão à 17 anos atrás, e acredito, que se existir uma opção, devemos morrer com a mesma dignidade com que vivemos.

No dia 4 de Agosto tive que tomar a decisão de abater o meu cão, o Pongo.

De à uns 2 meses para cá, devido aos seus 17 anos e aos problemas de saúde próprios da idade, o Pongo foi perdendo a qualidade de vida. A maior parte das vezes já não se conseguia levantar sozinho, e quando o conseguia fazer era sempre com um esforço enorme , caia constantemente a andar e a comer, e os analgésicos passaram a fazer parte do seu dia a dia...

Nestes últimos dois meses, foram raros os dias em que não me agarrei a ele a chorar, a pensar que estava a chegar o tal dia, e derivado desse meu estado de espírito, a ver desaparecer o brilho do olhar do Pongo.

Devido a situações que presenciei, e outras pelas quais passei na minha vida , sempre prometi a mim mesma, e ao Pongo que nunca o faria sofrer, que preferia um dia ficar sem ele a vê-lo a sofrer, e sendo eu uma pessoa que defendo a eutanásia a 100%,, penso que cumpri essa promessa na altura certa.

Na realidade, não existe uma “altura certa”, existe simplesmente a altura que “antecede” dias piores.

Costumo muito comprar os cães a crianças, a felicidade que existe na simplicidade de brincar, pular, correr...o verdadeiro sentido de ser cão...

O Pongo, (Bolinha de pelo), que dá nome a este meu blog ,e deu nome aos meus outros dois blogs anteriores, foi um caniche que veio para mim com 3 meses, e durante toda a sua vida fez parte daquele grupo de animais que se pode afirmar sem qualquer sombra de duvida que foram felizes.

Não só foi um animal que sempre teve a companhia humana, como sempre foi acarinhado por todos os que o rodeavam.

Gozou ferias sensacionais, nas quais conheceu grande parte do centro e sul de Portugal. Ficamos em hotéis, parques de campismo, casas de familiares e amigos, e acabamos por ter algumas aventuras.

Fomos corridos de um parque de campismo devido a ele passar a noite a ladrar em redor das tendas, fugiu-me em Évora durante quase 3 horas e perdemos o comboio para Lisboa,desconfio até, que essa fuga deve de ter dado origem a cachorrinhos alentejanos em alguma parte de Évora. Também íamos levando um tiro em Évora quando me enganei na porta de saída do hotel e o dono do hotel pensou que eram assaltantes a tentar arrombar a porta e apareceu de caçadeira na mão.

Apanhou uma praga de carraças na barragem do Alqueva e por “camaradagem” até me passou uma que se espetou na minha barriga, acabando o meu pai com ele no veterinário, e a minha avo comigo no centro de saúde.

Uma vez, num jardim ao pé de casa, atacou um pastor alemão, o cão quase o desfez, e depois ia-me desfazendo a mim para o tirar da boca do cão. Nesse dia íamos matando a minha mãe, quando entramos os dois em casa dela cheios de sangue, aliás, além de o ter salvo do pastor alemão salvei-o mais algumas vezes.

salvei-o numa barragem no Alentejo quando ele se meteu no meio de um rebanho de ovelhas a fazer fintas às ovelhas, salvei-o de levar uma patada de um cavalo quando fincou os dentes na pata traseira do cavalo, salvava-o cada vez que íamos com o meu pai à pesca, e ele seguia o meu pai por cima das rochas e depois nunca conseguia voltar, e eu ia busca-lo ao outro lado e trazia-o ao colo, com o meu pai aos gritos a dizer que se ele tinha passado para lá passava para cá ,e que ainda me matava com o cão ao colo pelas rochas.

Há 4 anos atrás, depois de ter estado internado devido a um problema de saúde que teve,até teve a ousadia de me pregar uma partida. Gania para saltar para cima da minha cama e eu tinha que o meter lá em cima, até que decidi meter o colchão no chão e dar a cama...dias depois, em casa dos meus pais fui dar com ele em cima da cama deles...

Enfim, posso sem sombra de duvida dizer que o Pongo até à dois meses atrás, teve uma vida “cheia”, uma vida, em que todos os momentos, mesmo os mais assustadores mereceram ser vividos, e não apagava nem um, e durante esse tempo proporcionou-me também a mim uma vida “cheia”.

Uma realidade inalterável, é que no fundo, a vida e a morte, estão interligadas, e penso, que só conseguimos encontrar algum sentido na morte, quando apreciamos e valorizamos a vida que existiu , quando nos propomos a “celebrar” a vida que existiu , em vez de “lamentar” o “final”,que de forma alguma podemos alterar, por isso este meu post não tem como objectivo expressar a tristeza que sinto, mas “celebrar” a vida que o Pongo teve...uma vida que “valeu”...vida essa que fará sempre parte de mim....E acho que está na altura de eu comprar uma cama.

Por ultimo quero deixar aqui um agradecimento ao hospital veterinário de São Bento em Lisboa, pela forma como o Pongo sempre foi lá tratado.

Não só nos deparamos com excelentes profissionais, como também nos deparamos com uma equipa de veterinários(as) e colaboradores(as) com um elevado espírito de humanidade, amor e respeito pelos animais.

Até sempre Pongo. (Bolinha de pelo)  E aqui fica uma foto do dia em que o "sacaninha" me enganou...

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publicado às 21:13


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